Acabei de ler, quase de um só fôlego, a notável e maravilhosa obra do genial escritor Jorge Amado, “Capitães da Areia”. Pouco a pouco, e lentamente de folha a folha, a minha vista e o meu cérebro, juntos, navegaram e perderam-se na vastidão das páginas desta grande obra literária, na busca e na perseguição de um mundo que não me era de todo desconhecido nem tão pouco ignorado. Aliás, este fenómeno já antes me havia sucedido, nomeadamente, a quando da leitura de outras obras, onde também nelas, as suas principais personagens, eram crianças com vidas, sonhos e sofrimentos dos homens.
Lembro-me, de noutras semelhantes leituras, de ter sido invadido por uma sensação e por uma idêntica vibração, nomeadamente, quando em tempos apaixonadamente li os “Esteiros” do grande e não menos talentoso romancista Soeiro Pereira Gomes. Talvez por nostalgia, saudades de um passado pobre e parco de carinhos, mas rico em aventuras e cheio de histórias de grandes e piedosos heroísmos, que foram bebidos até à embriaguez nos velhos almanaques da história de Portugal e nos sebentos catecismos da religião vigente.
Esta leitura mágica e enfeitiçada dos “Capitães da Areia”, teve o condão de despertar o meu espírito para um distante e adormecido passado. E nesse acordar, reconheci no holograma que me era projectado, as personagens do “Pedro Bala”, do “Gato”, do “Pirolito”, da “Dora” e do “Professor” como sendo as personagens do “Tó Zé”, do “Gata”, do “Fernando”, da “Belinha Maria Rapaz” e de mim próprio, uma vez que quase que me identifico com o “professor”. Pois tal como ele, ainda os dentes de leite não me tinham caído e eu já sabia como era fértil a minha sonhadora e romântica imaginação de criança. O dom para o desenho e para a pintura que por Deus me foi dado, tal como o dom da personagem com que me identifico, sempre me proporcionou uma imaginação sem fronteiras e sem qualquer limite. Este meu mágico dom, fez com que nunca me faltasse a inspiração, nem tão pouco o talento e o génio para contar histórias de enredo difícil e de encantar. É esse o divino dom, que me permite dar alma aos objectos, voz às árvores, cor à memória e até feitio aos pensamentos, os quais tanto encantaram os meus queridos fantasmas.
Tantos foram os quadros falados e pintados no vento e nas nocturnas brisas, que tanto foram apreciados e aplaudidos por esses queridos duendes do meu passado, que ainda hoje, estes me prendem e me acorrentam com as grilhetas tanto da memória, como as da saudade. Para homenagear essas queridas aparições, não hesito sempre que me seja permitido e possível, contar sempre mais uma história de pasmar e de enfeitiçar desses tempos de menino, onde imperava a fantasia, a liberdade e o riso fácil.
Mas, apesar deste dom que Deus me deu, ser gigante e ser enorme, que inveja eu não tenho daqueles talentosos desenhadores que vestem fatiotas aos animais e dão feitio aos seus pensamentos. Esses não à regionalização!! Esses são os verdadeiros mestres, os verdadeiros magos e os verdadeiros génios na arte de comunicar e satirizar o quotidiano. É preciso de facto ter tanto um espírito tremendamente observador e satírico, como também possuir uma capacidade crítica e autocrítica invulgar e acima da média, para ter a capacidade de vestir os animais e de os fazer viver como os seres humanos. É essa a imaginação superior que tanto gostava e ambicionava de possuir, mesmo no tempo em que era parte integrante de um alegre e solto bando de pardais, que de nosso quase nada tínhamos, e a final de contas hoje verifico, que tudo na verdade tínhamos, porque possuíamos a liberdade, a fantasia de sonhar e a gargalhada livre e farta.
Que arma eu hoje não teria para contribuir para a extinção dessas personagens na vida real, se tal como esses grande artistas, tivesse essas doses industriais de sentido de humor e de fina ironia, para interpretar e satirizar os poderosos deste mundo, criadores e geradores de personagens reais de futuros romances de homens que nunca foram crianças.
Tenho a profunda convicção, que se estes meus muito apreciados e venerados artistas não tivessem esse gigantesco talento, o Grilo falante seria um animal de grande porte, cheio de sentenças para dar e juízos de valor para fornecer. Só por grande ironia é que a voz da consciência aparece personificada na figura de um grilo tão pequeno e insignificante, que ainda por cima dorme apertado numa caixa de fósforos e que até é conservador e antiquado no seu trajar, uma vez que este usa como indumentária, um chapéu alto, uma casaca preta de modelo antigo, bengala e polainas brancas.
Ainda me recordo com grande nitidez, o tempo em que encarnava a personagem do “professor”, e que na minha consciência habitava um grilo semelhante, se não um pouco mais pequeno do que o Grilo da fábula do Pinóquio, pois quase tenho a certeza, que um dedal serviria para seu leito.
Recordo-me também ainda, que a liderança e a conquista destes pequenos corações ricos de sonhos e de aventuras, fora feito à custa de histórias que faziam o meu nariz crescer desmesuradamente. Sei que nessas histórias de pasmar, por vezes me excedia um pouco com um colorido e um picante mais forte do que o aconselhável, pois o grilo falante que me acompanhava no tempo em que eu trepava às árvores, não deixava de a meu lado insistentemente, pular e de gritar na minha mente, que aquilo era imaginação criativa e fértil a mais, e tal imaginação tinha limites. Mas a credulidade daqueles puros olhares, levavam-me muitas vezes a navegar no imaginário e até no esotérico. Por isso, nunca nos entendemos, havia um descompasso permanente nos seus passos e nas acções que eu realizava. Assim, quando contava uma história para os meus companheiros de aventuras, geralmente como um crónico e já habitual tique, afastava com a minha mão, esse importuno e maçador que não parava de gritar e de atormentar a minha pobre mente.
Ainda hoje, talvez como herança desse passado ainda nítido, penso, que para nossa defesa e protecção, quantas vezes não temos a necessidade de fingir que não ouvimos a voz da nossa consciência. E quantas vezes, não temos necessidade de a ignorar, apesar de todos os avisos e de todos os sinais de alerta que o nosso grilo falante nos faça?
Eu acredito, que existem mentiras boas. Porque acredito que nem tudo pode ser revelado e dito...Mentir toda gente mente. Quem diz que nunca mentiu é mentiroso. Mentiras pequeninas ou grandes, inocentes ou culpadas, boas ou carregadas de malícia, omissões ou ausências, são alguns dos numerosos membros da grande família das mentiras, que em determinados momentos da nossa vida, nos assaltam a consciência, nos estrangulam o coração e nos ferem a alma porque as vicissitudes da vida nos obrigam a utilizar esses meios que o nosso grilo falante tanto reprova.
As mentirinhas que foram responsáveis, nesse tempo de menino, por o meu nariz crescer, crescer, eram mentiras boas e piedosas, pois não faziam mal a ninguém, antes pelo contrário, deixava nos meus companheiros os seu olhos esbugalhados de românticos sonhos e de exemplos de acções que os tornavam mais determinados e até mais valentes do que nunca.
Agora, que acabei de ler este cofre depositário da sabedoria dos meninos que nada têm para além dos seus próprios sonhos, e que me fez recordar através das poeiras do tempo o meu já longínquo passado, volto a colocá-lo com um carinho muito especial de novo na estante, para num outro dia, voltar a acordar estes queridos fantasmas que adormecem nesta soberba e magnífica obra, para que dessa forma, possa vir a matar as saudades de uma infância que não ouso qualificar, ao mesmo tempo, que estes queridos duendes me dão a coragem e a determinação para contribuir, que outras crianças não venham a ser inspiradoras de personagens de outros romances, cujos heróis venham a ser as crianças que nunca tiveram infância.
Lembro-me, de noutras semelhantes leituras, de ter sido invadido por uma sensação e por uma idêntica vibração, nomeadamente, quando em tempos apaixonadamente li os “Esteiros” do grande e não menos talentoso romancista Soeiro Pereira Gomes. Talvez por nostalgia, saudades de um passado pobre e parco de carinhos, mas rico em aventuras e cheio de histórias de grandes e piedosos heroísmos, que foram bebidos até à embriaguez nos velhos almanaques da história de Portugal e nos sebentos catecismos da religião vigente.
Esta leitura mágica e enfeitiçada dos “Capitães da Areia”, teve o condão de despertar o meu espírito para um distante e adormecido passado. E nesse acordar, reconheci no holograma que me era projectado, as personagens do “Pedro Bala”, do “Gato”, do “Pirolito”, da “Dora” e do “Professor” como sendo as personagens do “Tó Zé”, do “Gata”, do “Fernando”, da “Belinha Maria Rapaz” e de mim próprio, uma vez que quase que me identifico com o “professor”. Pois tal como ele, ainda os dentes de leite não me tinham caído e eu já sabia como era fértil a minha sonhadora e romântica imaginação de criança. O dom para o desenho e para a pintura que por Deus me foi dado, tal como o dom da personagem com que me identifico, sempre me proporcionou uma imaginação sem fronteiras e sem qualquer limite. Este meu mágico dom, fez com que nunca me faltasse a inspiração, nem tão pouco o talento e o génio para contar histórias de enredo difícil e de encantar. É esse o divino dom, que me permite dar alma aos objectos, voz às árvores, cor à memória e até feitio aos pensamentos, os quais tanto encantaram os meus queridos fantasmas.
Tantos foram os quadros falados e pintados no vento e nas nocturnas brisas, que tanto foram apreciados e aplaudidos por esses queridos duendes do meu passado, que ainda hoje, estes me prendem e me acorrentam com as grilhetas tanto da memória, como as da saudade. Para homenagear essas queridas aparições, não hesito sempre que me seja permitido e possível, contar sempre mais uma história de pasmar e de enfeitiçar desses tempos de menino, onde imperava a fantasia, a liberdade e o riso fácil.
Mas, apesar deste dom que Deus me deu, ser gigante e ser enorme, que inveja eu não tenho daqueles talentosos desenhadores que vestem fatiotas aos animais e dão feitio aos seus pensamentos. Esses não à regionalização!! Esses são os verdadeiros mestres, os verdadeiros magos e os verdadeiros génios na arte de comunicar e satirizar o quotidiano. É preciso de facto ter tanto um espírito tremendamente observador e satírico, como também possuir uma capacidade crítica e autocrítica invulgar e acima da média, para ter a capacidade de vestir os animais e de os fazer viver como os seres humanos. É essa a imaginação superior que tanto gostava e ambicionava de possuir, mesmo no tempo em que era parte integrante de um alegre e solto bando de pardais, que de nosso quase nada tínhamos, e a final de contas hoje verifico, que tudo na verdade tínhamos, porque possuíamos a liberdade, a fantasia de sonhar e a gargalhada livre e farta.
Que arma eu hoje não teria para contribuir para a extinção dessas personagens na vida real, se tal como esses grande artistas, tivesse essas doses industriais de sentido de humor e de fina ironia, para interpretar e satirizar os poderosos deste mundo, criadores e geradores de personagens reais de futuros romances de homens que nunca foram crianças.
Tenho a profunda convicção, que se estes meus muito apreciados e venerados artistas não tivessem esse gigantesco talento, o Grilo falante seria um animal de grande porte, cheio de sentenças para dar e juízos de valor para fornecer. Só por grande ironia é que a voz da consciência aparece personificada na figura de um grilo tão pequeno e insignificante, que ainda por cima dorme apertado numa caixa de fósforos e que até é conservador e antiquado no seu trajar, uma vez que este usa como indumentária, um chapéu alto, uma casaca preta de modelo antigo, bengala e polainas brancas.
Ainda me recordo com grande nitidez, o tempo em que encarnava a personagem do “professor”, e que na minha consciência habitava um grilo semelhante, se não um pouco mais pequeno do que o Grilo da fábula do Pinóquio, pois quase tenho a certeza, que um dedal serviria para seu leito.
Recordo-me também ainda, que a liderança e a conquista destes pequenos corações ricos de sonhos e de aventuras, fora feito à custa de histórias que faziam o meu nariz crescer desmesuradamente. Sei que nessas histórias de pasmar, por vezes me excedia um pouco com um colorido e um picante mais forte do que o aconselhável, pois o grilo falante que me acompanhava no tempo em que eu trepava às árvores, não deixava de a meu lado insistentemente, pular e de gritar na minha mente, que aquilo era imaginação criativa e fértil a mais, e tal imaginação tinha limites. Mas a credulidade daqueles puros olhares, levavam-me muitas vezes a navegar no imaginário e até no esotérico. Por isso, nunca nos entendemos, havia um descompasso permanente nos seus passos e nas acções que eu realizava. Assim, quando contava uma história para os meus companheiros de aventuras, geralmente como um crónico e já habitual tique, afastava com a minha mão, esse importuno e maçador que não parava de gritar e de atormentar a minha pobre mente.
Ainda hoje, talvez como herança desse passado ainda nítido, penso, que para nossa defesa e protecção, quantas vezes não temos a necessidade de fingir que não ouvimos a voz da nossa consciência. E quantas vezes, não temos necessidade de a ignorar, apesar de todos os avisos e de todos os sinais de alerta que o nosso grilo falante nos faça?
Eu acredito, que existem mentiras boas. Porque acredito que nem tudo pode ser revelado e dito...Mentir toda gente mente. Quem diz que nunca mentiu é mentiroso. Mentiras pequeninas ou grandes, inocentes ou culpadas, boas ou carregadas de malícia, omissões ou ausências, são alguns dos numerosos membros da grande família das mentiras, que em determinados momentos da nossa vida, nos assaltam a consciência, nos estrangulam o coração e nos ferem a alma porque as vicissitudes da vida nos obrigam a utilizar esses meios que o nosso grilo falante tanto reprova.
As mentirinhas que foram responsáveis, nesse tempo de menino, por o meu nariz crescer, crescer, eram mentiras boas e piedosas, pois não faziam mal a ninguém, antes pelo contrário, deixava nos meus companheiros os seu olhos esbugalhados de românticos sonhos e de exemplos de acções que os tornavam mais determinados e até mais valentes do que nunca.
Agora, que acabei de ler este cofre depositário da sabedoria dos meninos que nada têm para além dos seus próprios sonhos, e que me fez recordar através das poeiras do tempo o meu já longínquo passado, volto a colocá-lo com um carinho muito especial de novo na estante, para num outro dia, voltar a acordar estes queridos fantasmas que adormecem nesta soberba e magnífica obra, para que dessa forma, possa vir a matar as saudades de uma infância que não ouso qualificar, ao mesmo tempo, que estes queridos duendes me dão a coragem e a determinação para contribuir, que outras crianças não venham a ser inspiradoras de personagens de outros romances, cujos heróis venham a ser as crianças que nunca tiveram infância.